O Cuidado ao Falar e a Religião Pura
Lição 5 - O Cuidado ao falar e a religião puraLIÇÕES BÍBLICAS - 3º Trimestre de 2014 - CPAD - Para jovens e adultos
Tema: FÉ E OBRAS - Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica
Comentário: Pr. Eliezer de Lira e Silva
Complementos, ilustrações, questionários e vídeos: Ev. Luiz Henrique de Almeida Silva

TEXTO ÁUREO

VERDADE PRÁTICA
As nossas palavras podem, ou não, evidenciar a sabedoria de DEUS.

LEITURA DIÁRIA
Segunda - Êx 19.5 Ouçamos a voz do Senhor
Terça - Ec 3.7 Tempo de falar e de calar
Quarta - Ef 4.26,29 A ira é uma porta para o pecado
Quinta - 1 Pe 1.23-25 Gerados em amor pelo poder da Palavra
Sexta - Sl 68.5 DEUS é Pai dos órfãos e juiz das viúvas
Sábado - Ef 1.3-6 Santos e irrepreensíveis em amor
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE - Tiago 1.19-27
19 Sabeis isto, meus amados irmãos; mas todo o homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar. 20
Porque a ira do homem não opera a justiça de DEUS. 21 Pelo que, rejeitando toda imundícia e acúmulo de malícia, recebei com mansidão a palavra em vós enxertada, a qual pode salvar a vossa alma. 22 E sede cumpridores da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos com falsos discursos. 23 Porque, se alguém é ouvinte da palavra e não cumpridor, é semelhante ao varão que contempla ao espelho o seu rosto natural; 24 porque se contempla a si mesmo, e foi-se, e logo se esqueceu de como era. 25 Aquele, porém, que atenta bem para a lei perfeita da liberdade e nisso persevera, não sendo ouvinte esquecido, mas fazedor da obra, este tal será bem-aventurado no seu feito. 26 Se alguém entre vós cuida ser religioso e não refreia a sua língua, antes, engana o seu coração, a religião desse é vã. 27 A religião pura e imaculada para com DEUS, o Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e guardar-se da corrupção do mundo.
Sabedoria para Usar a Língua (Tiago 3:1-18) - James, por Hendrickson Publishers - Edição Contemporânea, da Editora Vida, Traduzido pelo Rev. Oswaldo Ramos.
A reação de Tiago ao comportamento de grupos na igreja de sua época é convocar a igreja para que controle a língua, expondo as marcas do ESPÍRITO de DEUS, e finalmente denunciando a motivação humana de muitos crentes, na igreja.
3:1 Meus irmãos, indica o início de uma seção. Não sejais muitos de vós mestres: os mestres eram importantes na igreja (Romanos 12:7; 1 Coríntios 12:28; Efésios 4:11-13), mas a igreja também estava sendo prejudicada por falsos mestres (e.g., 1 Timóteo 1:7; Tito 1:11; 2 Pedro 2:1). Era fácil falsificar o dom do ensino, bastando que o falsário fosse bastante eloqüente. Mas era bem certo que, quando uma pessoa se apresentava “voluntariamente” para ensinar, em vez de ser impelida pelo ESPÍRITO, seus motivos mundanos com a toda a certeza se manifestavam em ciúme, contenda ou heresia. Tiago valoriza o ministério, mas percebe que sua atração e poder sociais tornam-no perigoso, e que a pessoa deve ser relutante em investir nele a vida. O perigo do ministério é, primeiramente, pessoal: receberemos um juízo mais severo. Se cada palavra vã entrará em julgamento, quanto mais as palavras dos que trabalham com palavras? (Mateus 12:36) Se os mestres judaicos deverão ser julgados com severidade, quanto mais os mestres cristãos? (Mateus 23:1-33; Marcos 12:40; Lucas 20:47) Um exame das condenações do falso magistério tanto nos evangelhos como em 1 e 2 Pedro, e em Judas, demonstram que, semelhantemente ao que diz respeito aos presbíteros (1 Timóteo 3; Tito 1), o modo de viver do mestre é mais importante do que suas palavras. Os mestres eram primordialmente modelos e, em segundo plano, instrutores intelectuais. Ao reivindicar a posição de mestres, colocavam sua vida e suas palavras sob a égide de DEUS, que os responsabilizaria pelo desvio do rebanho, quer mediante a palavra, quer mediante o exemplo.
3:2 O perigo aumenta muito pelo fato de que todos tropeçamos em muitas coisas. Tiago menciona um provérbio que significa que os cristãos não apenas pecam com freqüência, mas também pecam de muitas maneiras diferentes. Esta verdade é reconhecida por toda a Escritura: 2 Crônicas 6:36; Jó 4:17-19; Salmos 19:3; Provérbios 20:9; Eclesiastes 7:20; Romanos 8:46; 1 João 1:8.
“Se alguém não tropeça em palavra” Tiago focaliza um pecado especial que o preocupa: a língua solta. A necessidade de controlar a língua era bem conhecida no judaísmo e no cristianismo (Provérbios 10:19; 21:23; Eclesiastes 5:1; Siraque 19:16; 20:1-7). Tiago salienta aqui, como o fez em 1:26, a importância de controlar a língua, pois afirma a respeito de quem for capaz de domá-la: esse homem é perfeito, e capaz de refrear todo o corpo. Isto significa que tal pessoa é madura, tem caráter cristão completo (1:4) e, assim, é capacitada a enfrentar todas as provações e tentações, e a controlar todos os impulsos maus (1:12-15). É como disse Ben Zoma: “Quem é poderoso? Aquele que subjuga suas paixões”. Ou como perguntou Alexandre da Macedônia aos anciãos do sul: “Quem é o herói? Responderam-lhe: Aquele que controla suas paixões más [yêser hâ-râ]” (m. Aboth 4:1). Tiago caminha um passo à frente dos rabinos. O controle dos maus impulsos é bom (e Paulo concorda com Tiago, 1 Coríntios 9:24-27), mas os impulsos mais difíceis de controlar são os da língua. Mantenha pura a fala, e o resto será fácil; eis a marca do cristão maduro.
3:3-4 Tiago ilustra sua tese, “controle sua língua e você será capaz de controlar todo o seu ser”, mediante uma série de analogias.
Primeiro ele pensa em cavalos, que são maiores e mais velozes do que os seres humanos. No entanto, quando pomos freios na boca dos cavalos nós os controlamos: não só a cabeça, mas o animal inteiro é forçado a ir para onde o cavaleiro desejar.
Uma segunda analogia é tirada dos navios. Os navios constituíam uma das maiores estruturas que os primitivos cristãos conheceram. Se até um barquinho de pesca impressionava, quanto mais um navio mercante em pleno oceano? Mais impressionantes, todavia, eram as forças que o compelem, os ventos capazes de vergar árvores e espalhar as nuvens. Entretanto, a despeito de todo seu tamanho e peso, um leme pequenino, do formato de uma língua (pequenino pelo menos quando comparado ao tamanho do navio, ou ao poder do vento), movimentado pelo piloto, podia mudar a direção do navio. São dois exemplos impressionantes, ou analogias do adágio: “controle a língua e você controlará tudo”.
De certo modo, Tiago mudou um pouco sua argumentação, enquanto elaborava suas ilustrações. Ele havia começado dizendo: “Se você puder controlar a língua, você será um gigante espiritual capaz de controlar o resto do corpo”. As ilustrações de Tiago são agudas: “Se você controlar a língua, você controla o resto do corpo”. Todavia, esta mudança permite a Tiago mover-se no sentido de conscientizar-se de que a língua com freqüência incita a pessoa a agir: primeiramente, você expressa com palavras uma idéia proibida e, a seguir, você lhe dá expressão física; primeiro, você se mete numa conversa lasciva ou numa discussão acalorada e, a seguir, comete adultério ou assassinato. É para esse poder da língua que Tiago se volta agora, mas ambas as idéias, a dificuldade em controlarmos a fala e seu fantástico poder, estão ativas em sua mente.
3:5 Assim também a língua é um pequeno membro, e se gaba de grandes coisas: na verdade a língua é pequenina, mas quanta reivindicação pode ela fazer como responsável por grandes eventos para o mal, ou para o bem! Com muita freqüência os resultados foram malignos, mas a língua gabou-se com o máximo orgulho; o próprio emprego do verbo “gabar-se” leva à memória do leitor as frequentes condenações de Paulo a quaisquer vanglórias, e que só deveríamos gloriar-nos em CRISTO (Romanos 1:30; 3:27; 11:18; 2 Coríntios 10:13-16; Efésios 2:9). A língua é como um pequeno fogo que pode incendiar um grande bosque; pode tratar-se de um bosque palestino ressecado ao sol de uma longa seca, ou de uma encosta montanhosa do sul do nosso país. Alguém acende uma fogueira, sem cuidados, ou atira um fósforo aceso; a ação é irreversível, porque o fogo primeiro estala, depois ruge, e logo estará devorando alqueires e mais alqueires de madeira, rápido como o vento.
3:6 a língua também é fogo: É assim que Tiago começa a traçar quadros quase psicodélicos do mal produzido pela língua. À semelhança do fogo, a língua é destrutiva. Basta que nos lembremos da oratória de um Adolf Hitler para que fique sublinhada esta verdade. A língua não é só destrutiva, ela é um mundo de iniquidade; ou, como afirma uma tradução alternativa, “um mundo de injustiça”.
O mundo de injustiça está ocupando seu lugar entre os nossos membros. Ela contamina todo o corpo. O mundo é algo que o cristão em geral considera “lá fora”. Tiago aponta para sua própria boca e diz: “O mundo está aqui dentro”. A língua descontrolada é a encarnação e a sede dos impulsos maus do corpo. A língua não se limita em seus efeitos à sua própria área, visto que espalha a iniquidade, ou contamina todo o corpo. A pessoa inteira é atingida pelo fragor de sua língua. Entretanto, cada palavra vã será julgada (Mateus 12:36).
Além do mais, a língua inflama o curso da natureza, e é por sua vez inflamada pelo inferno. O problema a respeito das palavras é que as conseqüências não param por aí. Os efeitos são seriíssimos. “Paus e pedras podem quebrar meus ossos, mas as palavras não me machucam” é um conceito sem base bíblica. As chamas da língua incendeiam as paixões aumentam o furor, inflamam a lascívia.
Logo, as palavras, quer sejam um diálogo íntimo, não ouvido aqui fora, pois não houve fala, quer sejam pronunciadas, transformam-se em ação. As emoções, o raciocínio, o corpo todo se envolve incontrolavelmente. E qual foi a origem desse incêndio destruidor? O próprio inferno! É ali que está a prisão de Satanás e seus demônios. Aquela discussão teria sido inspirada pelo ESPÍRITO de DEUS? Não. Foi inspirada pelo diabo. As chamas do fogo, do preconceito, do ciúme, da inveja e da calúnia projetam-se do lago de fogo.
3:7-8 Tendo pronunciado uns conceitos pesados a respeito da língua, Tiago se empenha agora em comprovar sua tese com minúcias. Seu principal quesito é que a língua, isto é, a palavra humana, é desesperadamente perversa. Tiago inicia com uma analogia da natureza: Toda espécie de feras, de aves, de répteis e de animais do mar se doma, e tem sido domada pelo gênero humano. O argumento de Tiago não é científico. Não lhe interessaria saber que ninguém havia ainda conseguido domar o rinoceronte, e que em seus dias ainda não haviam chegado notícias sobre tubarões assassinos; tampouco está Tiago interessado em saber se determinado animal foi totalmente domesticado.
Basta-lhe saber que felinos e grandes macacos ficam sob total controle humano. Isto é verdade, quer se trate do prisioneiro que domestica um camundongo ou um rato, em sua cela, quer se trate do dono de um elefante que transporta um príncipe indiano, ou o encantador de serpentes na praça, ou o passarinheiro cujas aves lhe obedecem o comando. Tudo isto já era conhecido no passado (tem sido domada), mas não pertence a certa idade de ouro, meio esquecida - trata-se de experiência do presente também (se doma). Além de tudo, o conceito aplica-se às quatro principais categorias de vida animal: feras (i.e., mamíferos), aves, de répteis (inclusive anfíbios) e animais do mar.
Entretanto, que contraste quando avaliamos a língua! a língua, nenhum homem a pode domar. O problema de controlar a língua entrava numa espécie de ditado popular das culturas hebraica e grega. Tiago não precisava provar a verdade dessa máxima. Não tinham seus ouvintes dezenas e dezenas de coisas que gostariam de “desdizer” ou muitas palavras que haviam pronunciado erroneamente?
Não haviam aprendido dezenas de provérbios que talvez pudessem ajudá-los? “Há alguns cujas palavras são como pontas de espadas, mas a língua dos sábios é saúde” (Provérbios 12:18). “O que guarda a sua boca preserva a sua alma, mas o que muito abre os seus lábios tem perturbação” (Provérbios 13:3). Certamente as palavras de Tiago não precisam ser comprovadas perante pessoas honestas.
Em vez de deixar-se domesticar, a língua é mal incontido. E como Hermas diria, mais tarde: “A difamação é um mal; é demônio que não sossega, nunca tem paz, mas habita na dissensão” (Mandate 2.3). Em contraste, DEUS é perfeitamente uniforme no pensamento, estável e tem paz, “pois DEUS não é DEUS de confusão, senão de paz” (1 Coríntios 14:33). Entretanto, nossa fala constantemente se caracteriza pela instabilidade; a pessoa crê que controla sua língua, mas num certo momento de descuido, deixa escapar uma palavra ferina ou difamatória.
Algumas características dos demônios são a incapacidade de autocontrolar-se, a ausência de descanso, a instabilidade - as mesmas da língua, como Tiago logo demonstrará (3:16).
Além de tudo, a língua está cheia de peçonha mortal. Com isso concorda o salmista: “Aguçam a língua como a serpente; o veneno das víboras está debaixo dos seus lábios” (Salmos 140:3). Essa comparação com as serpentes era bastante difundida na literatura judaica, talvez porque a língua se parece um pouco com uma serpente, talvez porque as víboras matem com a boca e talvez porque, no Éden, foi a serpente que enganou nossos primeiros pais com palavras melífluas.
Não há evidência de que Tiago esteja na dependência de alguma passagem bíblica particular; ele está apenas afirmando que as palavras jamais são inofensivas; são perigosas e mortíferas como veneno, se não forem controladas. Esta é a resposta de Tiago à tendência moderna de considerar as palavras destituídas de importância e muito baratas.
3:9 / Tendo declarado a perversidade da língua e a dificuldade em controlá-la, Tiago nos dá a seguir alguns exemplos concretos sobre sua natureza incontrolável.
Em primeiro lugar, com ela bendizemos ao Senhor e Pai. Todos os leitores hão de concordar com Tiago. Dar graças a DEUS, agradecer-lhe a bondade, fazia parte do culto litúrgico de todo judeu e cristão: entoavam salmos (a que chamavam salmos de louvor) como Salmos 31:21 ou 103:1, 2; (levantavam orações matutinas e vespertinas em que davam graças a DEUS pela proteção durante a noite e pelas bênçãos do dia (as orações de Atos 2:42); e havia os devocionais antes de cada refeição: “Bendito sejas tu, ó Senhor DEUS de nossos pais, que nos dás do fruto da terra…”.
Infelizmente, a língua também é usada para amaldiçoar: com ela amaldiçoamos os homens. Há abundantes passagens bíblicas com maldições, embora a Bíblia imponha limites à maldição e não nos deixe tranquilos no que lhe diz respeito: Gênesis 9:25; 49:7; Juízes 9:20; Provérbios 11:26. As maldições eram comuns porque, à semelhança das bênçãos, não só davam vazão às emoções como também influíam de verdade sobre as pessoas e as coisas a que se destinavam. Embora Paulo proíba a maldição feita a esmo (Romanos 12:14), na prática o apóstolo pronunciava palavras duras, à guisa de maldições (1 Coríntios 5:1; 16:22; Gálatas 1:8). A cana de Judas é, praticamente, uma longa maldição contra os hereges. Entretanto, estas maldições de caráter mais formal sobre pessoas que praticam certos tipos de mal dificilmente seriam maldições oriundas do ódio, do ciúme, da rivalidade, jamais são usadas como arma a fim de separar ou rejeitar grupos, dentro da igreja, quando há lutas partidárias, e menos ainda constituem maldições irrefletidas de alguém que se viu prejudicado pessoalmente.
Tiago aponta a incoerência da maldição a esmo, ao acrescentar feitos à semelhança de DEUS. Embora um pronunciamento de JESUS que proíbe que se amaldiçoe pudesse ter sido a base emocional mais profunda (e.g., Lucas 6:28), Tiago prefere utilizar este argumento teológico a fim de salientar a incoerência da maldição.
O Antigo Testamento refere-se às pessoas humanas como feitas à semelhança de DEUS (Gênesis 1:26), e utiliza esse fato para comprovar a seriedade do ato de destruir essa semelhança (Gênesis 9:6). Até mesmo o mais depravado ser humano retém a semelhança de DEUS, a qual se entendia, segundo o pensamento bíblico, representava a pessoa toda. Bendizer a DEUS, ou a ele agradecer e, a seguir, voltar-lhe as costas e maldizer sua imagem e semelhança é o mesmo que engrandecer um rei, em sua presença, e a seguir esmagar a cabeça de sua estátua, à saída do palácio real. Na melhor das hipóteses, é uma incoerência de comportamento; na raiz desse mal está o ódio veemente, incontrolável, sem nenhum vestígio de arrependimento, dentro dessa pessoa, que não se atreve a atirá-lo contra DEUS, mas desabafa-o sobre as pessoas. Entretanto, Tiago reconhece, cheio de simpatia, a natureza instável das pessoas e identifica-se com elas, ao usar o verbo na primeira pessoa do plural (nós), não porque ele aceite essa realidade como apropriada, mas porque procura conduzir as pessoas ao arrependimento e mostrar-lhe um caminho melhor (3:13-18).
3:10 O problema óbvio aqui é a inconstância da palavra falada: Da mesma boca procedem bênção e maldição. Meus irmãos, não convém que isto seja assim. O problema não é tanto o de bênção, ou de maldição em si - a pessoa poderia, por exemplo, amaldiçoar o pecado muito adequadamente: “Que todos os pensamentos odiosos que querem invadir minha mente sejam enterrados nas profundezas do inferno!”. O problema é que tanto a maldição quanto a bênção dirigem-se ao mesmo objeto: DEUS, e a pessoa feita à imagem de DEUS.
Isso demonstra duplicidade de pensamento e, portanto, pecado. É especificamente essa duplicidade de linguagem (a pessoa “fala com língua bifurcada”, segundo o velho ditado), que a tradição bíblica rejeita (e.g., Salmos 62:4). Esta rejeição foi efetuada mais tarde, no judaísmo, (o livro apócrifo de Siraque 5:19 fala do “pecador de língua dobre”) e no cristianismo (e.g., Didaquê 2:4, “Não tenhas mente dobre nem tenhas duplicidade de língua, visto que a língua dúplice é armadilha mortífera”). Portanto, Tiago dá prosseguimento ao mesmo tema que mencionara em 1:8 e 4:8 - duplicidade, inconstância e instabilidade são sinais do impulso mau, e não devem ser tolerados. O cristão é chamado para desarraigar todas essas tendências e chegar à singeleza e à sinceridade de coração.
3:11-12 Tiago conclui sua argumentação com mais algumas analogias da natureza: Pode uma fonte de água salgada dar água doce? Aqui está uma verdade infelizmente comum por todo o Mediterrâneo, quer no vale do Lico (Apocalipse 3:15-16 refere-se ao suprimento de água da região), quer em Mara, no Sinai (Êxodo 15:23-25), quer no vale do Jordão, onde a água cai em cascatas do alto das rochas, dando uma aparência de boas-vindas ao viajante, até que este descubra tratar-se de águas amargas. Por que os seres humanos tentam fazer o que a natureza não faz? A analogia entre o produto de uma fonte aquática e o da boca humana é bem apropriada.
Em segundo lugar, meus irmãos, acaso pode uma figueira produzir azeitonas, ou uma videira figos? Mais uma vez a analogia é bem apropriada. Nenhuma árvore produz duas espécies de fruto. Cada árvore produz segundo sua natureza. É contrário à natureza o ser humano tentar fazer o que a natureza não faz. Entretanto, pode ser que Tiago esteja querendo dizer algo mais, visto que JESUS utilizou ilustração semelhante (Mateus 7:16-20; Lucas 6:43-45; Mateus 12:33-35), mas esta analogia relaciona-se a frutos bons e frutos maus, e ao julgamento de uma planta segundo o fruto que produz. Estaria Tiago sugerindo que o fruto mau (a maldição) revela a natureza da pessoa?
A terceira analogia confirma essa suspeita: Tampouco pode uma fonte de água salgada dar água doce. Tiago mudou sua analogia. Agora, a fonte é decididamente má, de água salgada, mas tenta produzir água doce. Isso é impossível.
O mal dentro da pessoa produz uma “inspiração” freqüentemente bem escondida, mas as “maldições” (crítica maldosa, calúnia, comentários negativos), misturadas com palavras piedosas, demonstram a verdadeira fonte de inspiração. O mestre ou os cristãos vindicam o ESPÍRITO de DEUS, ou a sabedoria de DEUS; mas há verdade nisso? Não há verdade quando a linguagem da pessoa revela que esta é uma fonte de água salgada que finge ser doce.
Havendo sustentado o perigo inerente à língua e a necessidade de pureza no falar, Tiago move-se agora para a retaguarda das palavras, e vai tratar das motivações por trás dessas palavras. Esta seção procura olhar para dois lados. Em certo sentido, olha para trás, para os mestres de 3:1 e para os problemas reais que sublinham a palavra impura, de modo geral. Noutro sentido, trata-se de ponte entre a discussão teórica de 3:1-13 e a denúncia dos problemas da comunidade, de 4:1-12. Assim como houve dois nascimentos, e duas inspirações em 1:12-18, há duas “sabedorias” e dois Espíritos, aqui.
3:13 Tiago já fez a apologia da fala singela, sincera; agora, faz um apelo. Quem entre vós é sábio e entendido? Em certo nível, esta é uma pergunta que simplesmente quer saber se alguém se enquadra na descrição, mas num nível mais profundo lembramo-nos de que 1 Coríntios 1-3 descreve uma igreja em que um ensino rival vindicava possuir sabedoria superior, e é possível que isso também estivesse acontecendo na comunidade de Tiago. Pelo menos Tiago sabia que os mestres de 3:1 afirmavam ser compreensivos, pois de que outra maneira poderiam ensinar? É a tais pessoas, e também às que aspiram compreensão, que Tiago se dirige.
De que maneira podem tais pessoas “mostrar” sua sabedoria? Mostre… Seria mediante a inteligente refutação daquele que discorda de sua posição? De modo algum; em vez disso, que mostre pelo seu bom procedimento… JESUS havia dito que distinguiríamos os verdadeiros mestres dos falsos pelo seu modo de viver (Mateus 7:15-23). Tiago está aplicando o ensino de seu Mestre. O procedimento era absolutamente crucial para a igreja primitiva. Os presbíteros eram acima de tudo exemplos (1 Pedro 5:3; 1 Timóteo 4:12; 2 Timóteo 3:10-11), e, num segundo plano, mestres. Suas qualificações enfatizam suas vidas exemplares, e, se há menção da habilidade para ensinar, esta é apenas uma dentre outras muitas (1 Timóteo 3; Tito 1). O modo de viver constituía também um testemunho importante (1 Pedro 2:12; 3:2, 16) visto que, se não houvesse sucesso na evangelização de um incrédulo, pelo menos eliminava as desculpas das bocas dos incrédulos no dia do julgamento final. Tiago declara que não é a ortodoxia da pessoa (pregação correta), mas sua ortopraxia (vida correta) que representa a marca da verdadeira sabedoria. O crente deve recusar o mestre que não vive à semelhança de JESUS; você deve descartar a profissão de fé que não conduz à santidade.
Tiago enfatiza duas marcas deste modo de viver. A primeira chama-se boas obras. As obras - nosso procedimento - falam mais alto do que nossas palavras (Mateus 5:16). As obras que determinada pessoa realiza demonstram onde tal pessoa investiu verdadeiramente seu coração (e.g., Mateus 6:19-21, 24). Tiago elogia práticas tais como a caridade, o cuidado às viúvas, como marcas de sabedoria.
A segunda marca relaciona-se ao desempenho dessas obras em mansidão de sabedoria. De modo diferente dos hipócritas de Mateus 6:1-5, os verdadeiramente sábios sabem como agir com mansidão (humildade): não estão edificando suas próprias reputações. À semelhança de Moisés (Números 12:3) e de JESUS (Mateus 11:29; 21:5; 2 Coríntios 10:1), não estão interessados em defender-se. Evitam conflitos, e de modo especial evitam fazer propaganda de si mesmos. A humildade (ou mansidão) é a marca do verdadeiro sábio.
3:14 Por outro lado, se o coração do crente é marcado, não pelo comportamento santo, pela mansidão humilde e pelas boas obras, mas revela amarga inveja e sentimento faccioso, o quadro é outro, bem diferente. Todas estas palavras descrevem as condições de vosso coração e refletem o ponto de vista de DEUS. A pessoa não deve permitir que essas características lhes penetrem na consciência
de forma disfarçada. A inveja mencionada por Tiago é “um zelo severíssimo”, ou “rivalidade”; o mesmo termo pode ter um significado positivo, o “zelo que transparece noutras passagens escriturísticas (e.g., 1 Reis 19:10), e é certo que a pessoa com essa característica persuadiu-se de que esse é seu caso. Na verdade, trata-se de rigidez resultante de orgulho pessoal. Amarga inveja é diferente do amor e do zelo firme de alguém que tem plenitude de DEUS; “amargo” é um adjetivo que descreve bem a vítima da inveja: seria um “zelo” tingido pela amargura. Não importa os motivos esplendorosos que podem ser proclamados: a dureza áspera no tom do cinismo demonstrado contra os adversários revela a horrorosa inveja.
Com tais vícios combina-se bem o espírito faccioso, que em NIV é “ambição egoísta” (Gálatas 5:20; 2 Coríntios 12:20). No calor da rivalidade, o líder acha que deve retirar-se, de algum modo, a fim de “testemunhar a verdade” que o principal grupo de cristãos rejeitou. Esta é uma questão extremamente sensível, visto que a história da igreja conhece grupos que foram expulsos ou tiveram de retirar-se
cheios de dor e tristeza, por serem testemunhas da verdade; houve épocas em que isto foi necessário. Todavia, com muita freqüência o que começa como um testemunho fica sutilmente maculado pela rivalidade, que induz à separação. Se estes vícios caracterizam seu coração, não vos glorieis, nem mintais contra a verdade. “Não mintais contra a verdade” é tradução literal do grego, que NIV traduziu: “não negueis a verdade”. Algumas pessoas poderiam estar reivindicando, em total oposição às evidências levantadas por Tiago, estarem cheias do ESPÍRITO de DEUS. Tiago lhes roga que não agravem seu problema ao continuar asseverando que é DEUS quem lhes motiva tão grande rivalidade. Ao jactar-se de seu zelo, ou quando discutem sem parar a justiça de sua causa, atiram a causa do reino de DEUS ao escândalo e acabam cegos espiritualmente.
3:15 A pessoa invejosa não é inspirada por DEUS: Essa não é a sabedoria que vem do alto. Tiago cria que a sabedoria vem de DEUS (1:5). Poderíamos parafrasear Tiago dizendo: “este comportamento não é inspirado pelo ESPÍRITO de DEUS”. É terrena. A inspiração dessas pessoas na melhor das hipóteses provém delas mesmas, de seu ego natural. Em segundo lugar, é animal, i.e., não-espiritual, carnal. Não faz parte de sua natureza redimida, mas caracteriza a pessoa para quem o verdadeiro caminho do ESPÍRITO é estranho. Os caminhos do mundo - o poder, o comando (cf. Marcos 10:45), a estratégia, as prerrogativas - são os que tais pessoas entendem, não a mansidão humilde, o amor, a auto-entrega. Em terceiro lugar, é diabólica. “É inspirado, é mesmo”, redargui Tiago, “é inspirado pelo próprio diabo!”. Neste ponto, Tiago atingiu o xis da questão.
3:16 Como que para arrematar sua argumentação. Tiago prossegue: Pois onde há inveja e sentimento faccioso, aí há confusão e toda obra má. A autoafirmação e a independência próprias da inveja do “zelo” doentio, destroem a capacidade de a comunidade disciplinar-se de acordo com a tradição apostólica (Mateus 18:15-20; Gálatas 5:25; 6:5). Destruídos os “freios” da reprovação mútua, e havendo necessidade de “aceitar as coisas” por medo do criticismo que levaria outrem a formar seu próprio partido (”panelinha”), fica fácil ver como toda obra má vai infiltrando-se. Para Tiago, a solidariedade comunitária é importantíssima como era para Paulo (2 Coríntios 12:20; Filipenses 2:4), visto que, sem ela, ocorre a desintegração moral e comunitária.
3:17 Contrastando de modo completo com a “sabedoria” demoníaca, temos a sabedoria que vem do alto. Para salientá-la, Tiago relaciona um catálogo de virtudes que podem ser comparadas, tanto em forma quanto em conteúdo, com o catálogo de Paulo quanto ao amor e ao ESPÍRITO (1 Coríntios 13; Gálatas 5:22ss).
Pura, moderada (Filipenses 4:5; 1 Timóteo 3:3; Tito 3:2), é tratável, é prática, porque se apresenta cheia de misericórdia (expressão grega da qual se derivou a palavra esmola) e de bons frutos, que são os atos de caridade que Tiago já discutiu (1:26-27; 2:18-26). É sem parcialidade, e sem hipocrisia, i.e., imparcial e sincera, livre de preconceitos.
3:18 Tiago resume sua explanação com um provérbio: o fruto da justiça semeia-se em paz para os que promovem a paz. A colheita da bondade ou da justiça é bem conhecida na literatura bíblica (e.g., Isaías 32:16-18; Amós 6:12).
“Bem-aventurados os pacificadores” (Mateus 5:9). Conflitos e desavenças não produzem justiça; o caminho
para a justiça chama-se paz. Na verdade, a verdadeira paz na comunidade é resultado da prática da justiça a todas as pessoas.
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